quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Passagem Dual

Há tanto que caminho.
Ora lenta, ora ligeira.
Por em plano e ladeira,
Eis meu desalinho...

Hoje me deparei
Com algo diferente na estrada.
Duas trilhas em minha jornada
Pausaram-me quando menos esperei.

Foi, então, que permite a mim
Um calembur me guiar.
Duas sendas a observar
Para a senda do meu fim.

Em uma delas avisto
Tudo o que sempre procurei
Mas eis que a forma como desejei
Se encontra no avesso do antevisto.

Na primeira um rio tranquilo
Porém, misterioso, não desvendado...
Rio por um já navegado
Retraído em seu sigilo.

Em outra vista um flume intenso
Em pleno desbravamento
Que sinto, chama-me a todo momento
Mas irresoluto em um consenso.

Por uns dias vou ficar aqui
Observando essas dualidades.
Esperando que as afinidades
Por um se estreitem para chegar a ti.

Quem sabe até, um dia, sei lá...
Venha do céu ou no vento
Uma saída deste intento
Para, enfim, novamente caminhar.
__________________________________

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Enfinge

Amanheceu.
E com o sol, a esperança de encontrar o teu olhar
Me faz levantar e seguir na estrada
Rumo ao desconhecido.
Meus sentidos captam tua presença.
Mas onde estarás?
Esse mistério que te ronda
Faz-me acreditar muito mais.
Sigo em frente.
E de ti, uma força extraordinária
Vem a envolver-me.
Sinto-me tão vigorosa
Que sou capaz de atravessar o Cabo das Tormentas,
Conquistar impérios,
Dar a volta ao mundo...
Tudo para encontrar minha muiraquitã.
Ao entardecer,
Luto para preservar a energia vital
Que de ti provém.
Você ainda não veio.
Mas a esperança que em mim vive
Leva-me a mais uma vez
Crer que tudo posso,
Que tudo devo,
Que tudo sou...
Transfere para mim tuas sensações
E deixa-me entregar em tuas mãos
A rosa azul cultivada em meus sonhos...
...
Anoiteceu.
E você não chegou.
O vento frio e a escuridão da noite
Carregam as inquietações e angústias
Que ficaram camufladas em meu dia.
Temo não mais te alcançar...
Meu poderio esvaísse,
De minha flor cessa o viço,
De meus olhos uma lágrima...
Agora só encontro tua ausência
E a solidão me ronda.
Sem consistência,
Sem fundamento real,
Me engano...
E espero pelo o outro dia...
Minha busca recomeçar.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Sonho


Que força louca que leva-me aonde eu não quero ir...
Arrastando meus desejos,
Remexendo em meu ser,
Controlando minhas vontades,
Tomando conta de mim...

Mais uma vez ouço sua voz
Disfarçada, envolta em manto irretorquível
Trazendo em si todas aspirações,
Todos os anseios descontrolados
Conduzindo para onde o bom senso tem um fim.

E novamente me encontro
No lugar em que minhas sensações
Fogem do controle de minha razão.
Penso... serei eu mais um ser
Dotado da graça de estar cego diante de uma luz sem-fim?

E nessa atmosfera absurda e inverossímil
Deparo-me diante do espelho perdidamente insana...
Que força louca que leva-me aonde eu não quero ir...
E faz-me ver que é lá onde eu quero estar...
Mas priva-me deste estado... E eis que volto a mim.
__________________________________

sábado, 24 de dezembro de 2011

O que sou


Deixe-me ser o que sou!
À margem de minha lucidez
Sinto que na minha pequenez
Irei aonde não vou.

No encontro de lugar nenhum
Estando só ou comigo mesma
Vejo que a ilusão da certeza
É uma condição comum.

Minha sensatez
É prova de quem errou;
Estado de quem vivenciou
Encontros tolos de estupidez.

No mais, que a luz acesa
Presente onde sentido algum
Esteve diante de todos em um
Dê-me o espaço para minha defesa.
__________________________________

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Inspiração: Mário de Sá-Carneiro

Eu não sou eu nem sou o outro,
Mário de Sá-Carneiro (1890-1916),
escritor português. Um dos
maiores representantes do Modernismo
em Portugal  e da Geração d'Orpheu.
O egocentrismo transparece
em suas obras  com tal intensidade,
que o poeta fragmenta-se num "eu"
cada vez mais neurótico
e desintegrado numa busca
obsessiva pelo "outro"
em uma atmosfera louca e surreal.

Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.

(…) 
Momentos de alma que,desbaratei…
Templos aonde nunca pus um altar…
Rios que perdi sem os levar ao mar…
Ânsias que foram mas que não fixei…

(…) 
Quero sentir. Não sei… perco-me todo…
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo para ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lodo.

(…) 
Numa ânsia de ter alguma cousa,
Divago por mim mesmo a procurar,
Desço-me todo, em vão, sem nada achar,
E a minh‘alma perdida não repousa.

Nada tendo, decido-me a criar:
Brando a espada: sou luz harmoniosa
E chama genial que tudo ousa
Unicamente à força de sonhar...

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Inspiração: Florbela Espanca

Eu


Florbela Espanca (1894-1930)
é um a poetisa portuguesa
que viveu um mar de inquietações
e o transformou em poesia dotada de
feminilidade e panteísmo.
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...

Sombra de névoa ténue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida! ...

Sou aquela que passa e ninguém vê ...
Sou a que chamam triste sem o ser ...
Sou a que chora sem saber porquê ...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Impulso


Tanto tempo estive longe de mim...
Pensava que a cada amanhecer poderia ser melhor...
Mas pensar não é o bastante. O fazer é necessário.

A mudança independe de uma razão.
Acordar e ver o mundo ao meu redor fez com que nessa manhã eu enxergasse o avesso do que era.

Agora, tudo mais claro, posso, enfim, sentir a brisa a me envolver;
E com seu toque suave perceber que dentro de mim algo maior do que eu pulsa de um modo ameaçador e vibrante que minhas emoções exacerbam-se de tal forma que é impossível controlar o que vejo, o que escuto, falo, cheiro ou que sinto...

E desse montante sei que meu tempo chegou... e não há como escapar!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Solidão em mim

Na solidão me perco...
Na solidão me encontro...
Idas e vindas...

Possuo, mas não por inteiro...
Tenho, mas não me pertence...
Sou, mas não existo!

O que há de errado?
O que há em mim?
O que há em ti?

Um novo tempo se aproxima,
Mas um tempo indefinido
Como indefinida sou.

Na solidão me perco...
Na solidão me encontro...
Idas e vindas...

E vivendo do que não fui,

Aqui estou!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Encanto

Me olhastes, falastes, me encantastes...
Não dei ouvidos a mim mesma...
Não imaginava que fosse real!
Não era possível ser real!

Sempre que te via,
Sempre que ouvia sua voz a me chamar,
Algo em mim se acelerava,
Mas não sei bem o que era.

Sei que te reencontrei.
E nesse reencontrar
Descobri que era o que pensava que não fosse...
E sendo, comecei a duvidar se foi...
Porque em seus devaneios, dizia-me ser
Mas em sua fantasia, a confusão habitava.

Agora como saber?
Resta-me viver cada momento de você...

Eu, Sensação


Cá estou...
Será que estou mesmo?
Ou apenas sou um sopro de vida num vendaval de sensações?
E se sou... sou vida ou apenas sensação?

E sendo sensação... me sinto? Faço sentir?
Se não posso ser sentida, como ter sentido?
Como saber... como responder...
Se nem mesmo sei o que é ser!

Tereza Soarez
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...