quinta-feira, 1 de agosto de 2013

DO FIM PARA O COMEÇO


Num entardecer de um dia, como qualquer outro, Joana encontrava-se  sentada num alto de um mirante para contemplar o pôr do sol. Aquele era um momento sagrado. O local era pouco visitado pelas demais pessoas, pois diziam que, embora a vista fosse apreciável, havia uma melancolia predominante, e a maioria das pessoas não sabem ver o lado bom daquilo que só aparenta ser ruim. Mas Joana não se sentia triste naquele ambiente, pelo contrário, ela sentia-se mais viva, mais revigorada, era com se a natureza a fortalecesse. Eram as essências integradas no mesmo ser.
Enquanto ela estava perplexa a acompanhar os movimentos do sol realizando seu ofício de partida, alguém sentara ao seu lado. Ela nem ao menos vira a chegada desse alguém. Até que ouve uma voz:
− Fim de tarde bonito, não é? O homem falou.
A menina assustou-se e um tanto receosa, responde:
− É um belo anoitecer.
O homem sorriu e ficou em silêncio.
A jovem parecia longe, de olhos fixos no horizonte. Até que um pássaro pousa em sua frente. Ela sorri tão contente, como se ave estivesse ali para vê-la. O homem olha atento aquela cena, sem que Joana perceba. Mas o pássaro levanta voo e parte. A jovem fica com um semblante triste, como se estivesse sido abandonada. O homem então pergunta:
− Ficaste triste com a partida do passarinho?
A jovem dar um suspiro de lamento e responde:
− Não exatamente pela partida dele, mas pela ausência que ficou. Ela silencia por instante e continua.
− Sempre venho aqui para apreciar o pôr do sol. Daqui a visibilidade é melhor e o espetáculo fica mais emocionante. Fico diante desta obra divina em contemplação. Vou me embalando nos raios do sol até eles sumirem por detrás da montanha. Por mais que este seja um hábito contínuo, é sempre como a primeira vez. Contudo, mesmo diante de uma beleza tão radiante não há ninguém ao meu lado a quem eu possa dizer: “− Veja! Como é lindo!”. Isso acaba me causando uma dor, a dor da solidão, a dor do abandono...
Nesse momento, as lágrimas começam a rolar na face de Joana. O homem comovido oferece o lenço a ela e diz: − Não sei por quanto tempo, mas posso lhe fazer companhia nos entardecer, caso queira.
A menina pega o lenço enxuga as lágrimas, levanta o semblante e pergunta:
− Mas em troca de que o senhor fará isso? Eu nem o conheço?
O homem responde: − Em troca da sua alegria, da sua amizade, da sua companhia. Sinto mais vivo quando me sinto útil. E quanto ao fato de não nos conhecermos, permita-me que eu me apresente. Ele levanta a voz e diz em tons firmes e simpático:
− Sou Miguel Arcanjo. Tenho nome de anjo, mas sou mais humano que angelical. A jovem já mais animada responde:
− Muito prazer, senhor Miguel. Sou Joana Campbell, esta chorona aqui. Os dois riem da situação e no horizonte surge a primeira estrela.
Joana então fala:
− Bom, senhor Miguel, a noite já vem iniciando. Devo descer do céu e retirar-me da presença de um anjo para voltar à terra. O senhor me acompanha? Mas tem que ir andando. Nada de voar. Miguel não contém o riso e responde:
− Que ótimo humor você tem! Acompanho-a sim e prometo manter os pés no chão.
Os dois se retiraram daquele mirante para no amanhã retornar. Joana só não lembrava que o Miguel era o mesmo homem que testemunhava suas fugas, quando pequena, para o mirante em todos os fins de tarde.
Miguel havia ido morar em outra cidade e só voltou a esta após dez anos. Só reconheceu Joana pelo sinalzinho negro que ela tem na bochecha, e por esta não ter perdido o jeito travesso e o hábito de contemplar no alto do mirante.



                                                                                                              Iúllia Agner

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